domingo, 27 de fevereiro de 2011

Bem pior

Hoje temos talvez o corte mais radical de Nunca mais vou filmar. Não que ele revolucione alguma coisa, pois sequer tem essa pretensão, mas o que trouxe para casa na sexta-feira (25) parece outra coisa. Se compará-lo àquela vaga lembrança do que poderia remeter a um esboço de um curta-metragem que ainda precisava de cuidados, se compará-lo àquela versão de 26 de janeiro, mal parece o mesmo diretor.

Em outras palavras, a montagem tem se mostrado tão penosa (embora encontros sejam bissextos, lá se vão dois meses de edição) quanto fascinante.

Momento pouco agradável foi partir para encontro com Igor com duas salvações, duas certezas, e perceber que estava errado. Uma traria mudança de tom em desarmonia com o filme, a outra foi impedida por “problemas técnicos”, que podem ser traduzidos como “deu merda!" em algo no plano ou no corte.

Decepção à parte, o importante é não estarmos mais em busca de
como montar, mas sim da melhor maneira de fazê-lo. Caso queira outro sopro de otimismo, se versão atual e de mês passado parecem filmes de diretores diferentes, dá para dizer que aquele era bem, mas bem pior.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Homicidas frustrados

Foto: Diego Teschi

Após nove dias de folgas forçadas, ou apesar deles, muita coisa mudou.

O filme que deixamos hoje na ilha de edição (e que não trouxe para casa porque ainda não dá para chamar mudanças de um novo corte) é bem diferente da última versão.

Não sei também
se por causa da pausa, ou se devido à proximidade do fim da montagem, eu e Igor chegamos na fase em que a qualquer momento esganaremos o outro. Geralmente um ganha no desejo, seja por querer tentar outra coisa, seja por defender uma ideia já usada, mas a recíproca é sempre verdadeira.

O bacana é que clima nos deixa ligados, e que essencial está claro: não adianta lutar pela prova que “estou certo”, não adianta frisar o “eu avisei” ou “era como eu disse”, se não ajudar o filme. Graças a este pensamento, aliás, pelo menos até o fim da montagem, acho que continuaremos homicidas frustrados. Cada vez melhor, ou para mim mais apresentável, filme agradece.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Tudo certo - dentro do impossível

Deu tudo certo, a princípio.

Verdade que eu e Igor não pudemos nos encontrar ontem, assim como é verdade que me parece impossível, passados dois meses das filmagens, ter um clima sedutor para regravar dois minutos de áudio e um plano de vídeo.

Por toparem ideia broxante, deixo aqui um “muito obrigado” público a David, Bruna e Lucas.

Os três, inclusive, assistiram ao último corte do filme, o segundo na prática, e fizeram algumas observações. Só não me peça para falar sobre num fim de tarde de sábado como hoje, com sol e calor na soterópolis.

Satisfação dada, que todos tenham um bom resto de final de semana.

Ps: A imagem do El País é do jogo que foi, como esperado, 90 e poucos minutos de um monumento que merece ser tombado como patrimônio da humanidade. Espero ainda fazer um filme do mesmo nível.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Entre segunda e amanhã

Foto: Lica Ornelas

Se tudo der certo, amanhã resolvemos as últimas pendências que hoje seguram a montagem de
Nunca mais vou filmar. Um áudio aqui e um plano ali se juntam em prol do filme e, espero, vamos para o início do fim.

Verdade que ele é apenas mais um início de mais um fim, como também é verdade que ainda falta a trilha sonora, mas vamos por partes. Em primeiro lugar, a finalização de áudio e vídeo exigem bem menos de minha cabeça, que agradece a pausa. E a música, que nunca foi dor de cabeça, já foi discutida o suficiente com Thiago Ferreira. Essa madrugada, inclusive, ele transformou a caixa de e-mails em um MSN, mas por uma ótima causa.

Mas e o filme, cara pálida?

Até a segunda, tínhamos um problema. (Na verdade temos vários, mas esse me chateava mais por ser uma solução transformada em problema.) Existia uma parte de um plano que me soava fabulosa, mas que, desde o início, se assumiu completamente antissocial. Não conseguia encaixar aquele trecho em canto nenhum, ele parecia fadado ao lixo, e eu à depressão. Até que Igor me veio com a sugestão de “encaixar aquele plano aqui e cortar pra lá”.

Na verdade, as aspas são figurativas, não faço ideia do que ele disse, mas ao concordar que podíamos fazer aquilo, não me segurei: “você salvou o filme”. Por mais que exista uma inevitável dose de exagero, foi o melhor momento da segunda-feira (14), o último dia que nos encontramos.

É possível que muita gente sequer faça ideia de qual plano seja, no fim das contas. Se for o caso, sinal de que funcionou.

Ps: quem me ler imediatamente após a postagem, e gostar, não se esqueça de Arsenal x Barcelona. É agora às 16h30min, hora de Salvador. Mais que o jogo, tem potencial para ser o confronto (ida e volta) do ano.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

17 horas, em Salvador

Foto: David Campbell

17h, rua Adelaide Fernandes da Costa, bairro Costa Azul. Nesse horário, a visão é a mesma quase todos os dias letivos do ano. Pelo menos ali, na altura do Colégio e da Biblioteca Tales de Azevedo. Meio mundo de gente com farda, ou ligado a um dos dois, zanzando de um lado para outro. A diferença é que, entre 20 e 22 de dezembro, a rotina dessas pessoas foi mudada por outras 13, ajudadas uma câmera.

Ontem passei por lá nessa hora e, em meio à sensação de
déjà vu, divaguei um bocado.

Primeiro veio à mente a maluquice de, em 11 horas úteis e com uma só câmera, conseguir 20 minutos de filme; é como fazer um longa de uma hora e quarenta com uma semana de filmagem. Para completar, também é verdade que ter um primeiro (que pode até ser chamado de terceiro) corte após sete dias de montagem é para poucos.

Em outras palavras, poderíamos ganhar vários prêmios de agilidade. Mas, em termos práticos, eles não fazem sentido algum. Nem servem de consolo.

Desculpas, explicações e satisfações são bons para extras de DVD e para blogs, mas desculpas, explicações e satisfações, assim como os extras de DVD e blogs direcionados, só existem por causa dos filmes. Eles que importam, e eles vão além de qualquer competição (principalmente de agilidade), coisa que o cinema não é, embora muita gente queira transformar a arte num ringue de vale-tudo. De vale-tudo não pela arte, o que pode ser válido, mas pelos prêmios, o que me soa mesquinho.

Sim, uma semana sem editar, justificada por pausa inevitável, já deu ao filme o tempo necessário para respirar. Não vejo a hora de acabá-lo, existe um óbvio cansaço, mas relembrar todo o processo me fez sentir faltar dele. Sacana, ele.

Ps: A partir de hoje, no canto direito (abaixo de "arquivo"), deixo uma área só para gente bacana que escreve sobre cinema e sobre filmes. Podem ir, sem medo.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Críticas e prazos

Foto: Diego Teschi

Já temos algo mais parecido com um filme. Embora nossas indicações (minhas e de Igor) tratem essa versão como terceiro corte, ao rever material com Tiago, discordamos. Ou melhor, concordamos ao discordar e chegar à conclusão – quase ao mesmo tempo – que este atual é, de fato, o primeiro corte.

No início tínhamos pedaços em busca de um todo a ser descoberto, agora temos um filme que parte para a busca de seu melhor. Antes tentava montar algo minimamente apresentável, com um mínimo possível de falhas grotescas; agora ponderamos o que existe de ruim ou de não tão bom e vemos até que ponto pode ser melhorado. O filme já tem corpo, já tem vida própria, está cheio de manias, aliás. Suas vontades começam a aparecer antes de percebermos. É bom.

Prazos
Em conversa com Tiago, baseado no que ainda temos pendentes, disse que espero estar com o filme pronto no início de março. “Gosto de seu otimismo”, ele respondeu. Ao tentar re-explicar o porquê de minha ideia, com pendência de novos cortes, trilha sonora, regravação, e finalização de áudio e vídeo, ele voltou a repetir que gostava de meu otimismo. Talvez faça sentido, talvez só vejamos o resultado em fim de abril, dezembro, ou até, quem sabe, na Copa de 2014.

De volta ao resultado, as críticas dos amigos João Daniel e Robyson são válidas, até pelas diferentes relações com o filme. O primeiro conheceu até uma das últimas versões do roteiro, o segundo tinha apenas uma vaga ideia do que ele tratava.

Uma notícia que pode ser vista como boa é que, mesmo longe do que o filme pode ter de melhor, resultado atual é dezenas de vezes superior ao do último dia 26. Espero seguir nessa toada e, daqui a um mês, olhar para material de hoje e tratá-lo como o que espero que ele seja: a vaga lembrança do que pode remeter a um esboço de um curta-metragem que ainda precisa de cuidados.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

O inferno que vem de dentro

A pergunta remete aos tempos de Moisés, provavelmente. "Como diretor, faz seu filme para você ou para o público?"

Com uma sabedoria que também remete à Arca, em resposta a outra pergunta, Edgard Navarro resumiu melhor do que qualquer que eu tenha lido, visto ou ouvido até hoje. "Ibope nenhum salva ninguém do inferno que vem de dentro".

A entrevista, na íntegra, pode ser conferida aqui, no sempre ótimo blog de Antonio Nahud, O Falcão Maltês: http://ofalcaomaltes.blogspot.com/2011/02/edgard-navarro-o-indomavel-bom-moco.html

Ps: Sobre o filme, estamos no terceiro corte, que a partir de agora tende a mudar apenas detalhes. Em breve espero falar dele, que já me agrada bem mais.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Reciclagem (ou o retorno dos que não foram)

Foto: Diego Teschi

Ontem saí bem mais satisfeito, curiosamente, graças também ao que já tinha desistido. Aliás, toda a edição de ontem foi atípica. Vivi um dia de Igor, que pegou o meu papel. Ele vinha com ideias, para ele sempre possíveis, enquanto eu citava o cigarro, a cerveja, a mão, o calango, enfim, tudo que pudesse resultar em problema de continuidade. Fiquei obsessivo com o encaixe e a suavização, ele com as atuações e o enquadramento. Foi ótimo para o filme, e tornou o processo mais leve, divertido até. Só tive certeza que nós dois continuávamos nós dois, e não o outro, na primeira pausa para o café. Se ele continuava com a eterna e insaciável saudade da cafeína (já tenho vícios demais, obrigado), aquilo provavelmente não passava de uma ilusão.

Curioso também como, após a desistência de minha ideia inicial, eu volto a ela, o que me parece bom. Sinto que processo está menos "manipulador" (não peçam detalhes, por favor), ou pelo menos me passa essa impressão, que é o que importa. Prova disso é que, como disse acima, passei a usar um plano que já estava com a passagem comprada para o lixo.

Existia um trecho do roteiro que, se por um lado me soava como um dos que inicialmente mais me agradava, por outro "não bateu". Dos ensaios até o segundo dia de gravação, não me convencia, e foi uma das poucas coisas enfatizadas por Roberto como um problema (o rapaz é educado). Só tínhamos mais uma dia, e provavelmente mais dois planos daquela sequência, mas conversei com Bruna e disse para ela mudar o raciocínio e a ordem, trocar introdução com conclusão, e improvisar do jeito dela.

O porém é que, no primeiro take após isso, não sei se ela esqueceu ou se Lucas não deixou, mas fato é que, embora tenham mantido parte do texto que para mim não funcionava mais, os dois reagiram maravilhosamente. Eles fizeram o que fazem os melhores atores: pegam um texto que, a princípio não funciona, e tornam bom. Para completar o lado positivo, é um dos momentos em que David melhor aproveita a luz e a câmera.

Não dá para dizer que temos um segundo corte, até porque parte da penúltima sequência tem erro grotesco, que eu e Igor, ao reeditá-la às pressas, deixamos passar. Seja como for, essa versão já está nas mãos de Thiago Ferreira. Por vários motivos, entre eles tempo, preferi mandar para ele um link onde possa baixar o filme em baixa resolução. Um arquivo que em Full HD deve ter vários GB, foi resumido a 96MB. Mas, como já conhece o roteiro, e como encaixe de esboço de trilha já ficou perfeito sem ele ter visto nada das filmagens, imagino que seja suficiente.

Hoje é dia de Iemanjá, de Rio Vermelho - ainda que seja de textos também. Amanhã eu e Igor voltamos à ativa.