sábado, 29 de janeiro de 2011

Maravilhas do lixo

Foto: Diego Teschi

David soube do primeiro corte, foi para a casa de Igor e assistiu a ele. Quando veio me dar o abraço de parabéns retroativo (não pelo filme, mas pelo aniversário), trouxe também inevitáveis e bem vindas críticas. Ao ouvi-lo, no entanto, percebi que o dirigir é, entre outras coisas, escolher com quem se indispor.

Ele fez suas ponderações, como amigo e diretor de fotografia, do mesmo jeito que Igor faz as dele como montador quando discordamos, e da mesma maneira que toda a equipe fará – ou faria, se visse material agora. Não vejo nada de anormal em querer ver o próprio trabalho bem feito, assim como me soa inevitável que muitos depois me perguntem porque usei esse e deixei de fora aquele plano.

A explicação é simples, ainda que a escolha não seja. Existe o enquadramento, o som, a fotografia, a atuação e o ritmo, apenas para falar em alguns dos pontos a serem analisados agora.

Já tive que jogar no lixo, para falar de exemplos básicos, uma atuação fabulosa e um plano com fotografia magnífica. O culpado pode ser desde um cachorro que resolveu latir incessantemente até o alarme do carro que disparou, passando por um transeunte que escolheu a hora e o lugar exatos. E isso para ficar apenas em casos mais sutis.

Dessa maneira, conto com a compreensão de todos. De antemão, peço desculpas aos que, tenho certeza, se sentirão prejudicados. Mas o que quer que eu faça, e digo isso ciente de toda a pieguice açucarada que ideia pode trazer, faço - ou pelo menos tento fazer - pelo filme.

Ps: Está em pré-estreia e com sessão única em Salvador, nada menos que Tetro (2009), de Francis Ford Coppola (de O Poderoso Chefão e Apocalipse Now). Às 21h30min, no UCI Multiplex Iguatemi. Ainda não vi, mas - também pela real possibilidade de ele não ser promovido a estreia - é com certeza o "quero ver" da semana.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O primeiro corte (ou a vaga lembrança...)

Foto: Diego Teschi

A noite do aniversário e o início da madrugada seguinte foram preenchidas na ilha de edição, mas por uma boa causa. Desde 1h da manhã de hoje, quando saí da casa de Igor, temos um primeiro corte. Ou melhor, como prefiro chamá-lo, a vaga lembrança do que pode remeter a um esboço de um curta-metragem que ainda precisa de cuidados.

Ele está com 15 minutos, sem créditos iniciais e finais, o que significa que ficaremos próximos, mas não além dos 20. Mas, agora vem o que importa, como ficou o filme visto?

Sem tratamento de aúdio, sem tratamento de vídeo, sem rever a penúltima sequência após modificações, e sem rever a última sequência depois de montada, tem-se algo cuja base já é definitiva. E essa base, ponderados os poréns, pelo que acabei de ver pela primeira vez, tem salvação. Hoje, no entanto, principalmente devido à ainda forte lembrança dessa visita ao material, vou de trilha sonora.

Embora ela não seja definitiva, a ideia se encaixou maravilhosamente bem. E o efeito prolongado da música de Thiago (Ferreira, não o Tiago, Cavalcanti), ainda sem nome, parece o de boa parte das músicas de Thin Lizzy comigo. Falo de Thin Lizzy porque voltei a ouvi-los recentemente, mas imagino que eles possam ser substituídos por outra banda no caso específico de cada um.

No início, embora tenha percebido algo muito bem acabado, simplesmente não bateu. Veio aquela sensação de "dá para ver que é bom, mas eu não gosto". Uma hora depois (que pode ser uma semana para alguns), todavia, já achei resultado mais forte. Agora me vejo cantarolando empolgado.

Por mais que a música não seja essa, o caminho é. Depois que ele ver a vaga lembrança do que pode remeter a um esboço de um curta-metragem que ainda precisa de cuidados, garanto que áudio e imagem ganham e muito. Assim como garanto conteúdo no próximo texto.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Trilha sonora e mudanças

Os últimos textos estão uma esculhambação, pensei comigo mesmo. Quando falo em sequência quatro, cinco, meia, sete e oito, só quem tem como imaginar ou deduzir (coisas que funcionam em alguns bons filmes prontos, vale dizer), é quem foi para a gravação. Nem quem conhece o roteiro tem como identificar porque, mesmo na última versão, ele não tinha divisão por cenas. E embora eu não escreva pensando em público específico, nem tampouco queira abraçar o mundo inteiro, não pretendo transformar isso aqui em um confessionário aborrecido. Dito isto, vamos para as novidades.

Um dos motivos que me deixou com tempo e disposição para postar hoje foi a não montagem. Por motivo de força maior (detesto quando usam o termo, mas não posso ser mais específico), eu e Igor não pudemos nos encontrar. De qualquer jeito, tudo certo para amanhã, e sem boa notícia não ficamos.

Hoje, quando menos esperava, recebi de Thiago Ferreira mensagem de que ele tinha esboços para trilha sonora. Tinha pensado em apenas uma música para o fim, mas ele veio com duas ideias, uma para abertura e outra para o término.

Para tentar facilitar a vida dele, para ter uma base concreta e poder viajar loucamente, enviei oito imagens “printadas” de como visualizava a decupagem da parte final do filme. O que ele fez tem muito do que falamos, muito dele, e já ajuda um bocado para termos uma ideia de ritmo nesse primeiro corte. Lógico que existem outras considerações, mas que preciso e prefiro fazer pessoalmente (ou seja, via telefone) e após digerir mais a música.

Com relação à ideia para abertura, tenho que admitir que, quando penso que não tem mais para onde ir, ele me surpreende. Uma obra-prima, do início ao fim. Para ser mais específico, 1min57s de perfeição, com o mais inimaginável caráter experimental. São quase dois minutos do mais límpido, do mais irretocável silêncio. Digno dos melhores estúdios.

Sacanagem à parte, só o fato de reouvir e relembrar da música enquanto escrevo já me anima. Mesmo quando revoluciona a revolução, esse sacana é dos bons.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Otimismo

Foto: Diego Teschi

Pelo que já cansamos de rever de Nunca mais vou filmar, posso garantir que, até o momento, resultado é bipolar. Momentos ainda sem solução contrastam com partes que ficaram melhores do que visualizei. Tenho certeza de que parte do caminho está certo. Muitas coisas sei que vou mudar, outras ainda penso nas possibilidades. A maior parte da sequência cinco (dois planos) está fabulosa, trecho final das sequências um, três e quatro também estão bem próximas do ideal. A indecisão do resto vem, geralmente, de algo em desacordo com a proposta do filme, entre essas coisas estando até “corta” dito fora de hora. O que significa dizer que, logicamente, o diretor está entre aqueles que tem todo o mérito por uma tomada não funcionar como poderia. Com relação ao último porém, o do rango da pausa, amiga hoje mineira e talvez com saudade da Bahia, Bárbara foi brilhante: “coma um acarajé”.

Olhar otimista à parte, revi ontem a montagem parcial (que ainda não é um primeiro corte) com os 12min e quebrados, ao lado de Tiago (Cavalcanti, co-produtor executivo), que assistiu ao material pela primeira vez. Ele fez algumas considerações, uma delas inclusive que devo pegar, para a abertura.

Amanhã, eu e Igor voltamos à ativa. Até o final da semana, pelo menos, esperamos ter um esboço de primeiro corte. Falo esboço porque existe o som, que precisa ter partes regravadas, assim como a trilha sonora, outra pendência. Mas, convenhamos, tudo dentro do esperado. Inclusive, o que me parece cada vez mais inevitável, passar a noite de aniversário numa ilha de edição.

Ps: Falando em aniversário, vi depois da postagem, hoje é o de Jeanne Moreau, 83 anos. A foto é dela, um monumento vivo.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Atualização

Com relação ao conteúdo já montado de Nunca mais vou filmar, não há motivos para dúvidas. Pelo que já cansamos de rever, posso garantir, sem medo de errar, que está medonho. Tenho certeza, aliás, que estamos no caminho errado. Devemos ter uns 30 planos. Gosto de dois. Toda a equipe já foi xingada. Para completar a catástrofe, como se não bastasse nunca mais ter encontrado o enroladinho, ontem todos os salgados tinham acabado.

Não é o filme que sonhei, definitivamente.

Sacanagem à parte, Nunca mais vou filmar está bem, obrigado. Estamos na metade final da quinta sequência, o que dá cerca de 80% do curta, que está com 12 minutos até agora.

Hoje, em meio a conflito de compromissos, eu e Igor nos demos uma pausa. O blog também merece a dele. No próximo texto, em breve, todos voltamos ao normal.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Tarantino, Scorsese e consequência

Foto: Diego Teschi

Terminamos ontem o terceiro dia de montagem, que na prática foi o primeiro e meio. Estamos na quarta sequência, mais ou menos a metade do filme. Até agora, o que posso dizer é que o mais chato da edição não tem sido o processo em si. Longe disso.

É fato que os primeiros dias de praticamente qualquer coisa tendem a ser mais agradáveis que os últimos. Também pesam na situação uma terça e uma quinta de pausa, assim como a ótima e barata lanchonete onde paramos para respirar. A exceção é cortesia do pastel de forno, que venderam como bacalhau e era de frango, completamente seco, para completar.

Mas, como ia dizendo, o porém não é o processo, nem tanto o pastel de forno. Temos ainda o maldito timecode, que fez quase toda a ideia de decupagem servir para nada, mas o que me incomoda mesmo é a consequência dele. Desse período de pós-produção, digo.

No meu tempo livre, e até fora dele, penso demais nas possibilidades de montagem. Agora mesmo acabo de visualizar a solução para sequência que mais tive problemas com Igor, e um possível "eureka" para outra. Mas na hora, nós dois sabemos, é bem diferente e nada é tão fácil.

Com isso, falta cabeça para se desligar e simplesmente ver um filme. Estamos no dia 15 e só vi seis em 2011. Verdade que entre eles estão o fabuloso
Viver a Vida (1962) - como eu consegui não gostar dele na primeira vez que vi? - e os ótimos Além da Vida (2010) e Estrada Perdida (1997), mas a pouca quantidade é deprimente. Pelo menos para mim, que não tenho como sobrenome Tarantino, Scorsese ou coisa do tipo, é complicado ver e produzir, assistir a e tentar filmar muitas e boas imagens ao mesmo tempo.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O início do fim (ou do perfeccionismo ao preciosismo)

Foto: David Campbell

Graças a Igor, o “tá na mente” evoluiu para o “tá na maquina”, e agora oficializamos o início do fim. Com ele, é inevitável lembrar de como foi o processo em Do Goleiro ao Ponta-esquerda (2008), que me veio à mente em quase todo o período que discutimos montagem, e como ele tende a ser diferente agora.

Verdade que existe um abismo entre um documentário (sobre futebol) que mescla depoimentos, narração e computação gráfica, com uma ficção de homem que reencontra mulher. Mas se o processo de filmagem do primeiro foi infinitamente mais fácil (equipe se resumia a cinegrafista e eu na maior parte do tempo), sua montagem foi martírio que não vou repetir.

Ontem, o mais próximo do martírio que cheguei foi no retorno para casa, no ponto onde passa um ônibus por cada estação do ano. E dá várias voltas. Para ir de Brotas ao Costa Azul, tive a impressão de ter dado uma passada em Guarajuba. Para quem não conhece Salvador e o litoral norte do estado, é como ir de São Paulo para o Rio com escala em Brasília.

Voltando a Do Goleiro ao Ponta-esquerda, comecei a montá-lo em maio, apresentei o TCC em julho, com poucas mudanças a serem feitas, mas corte final ficou pronto apenas em outubro. Em outubro! Verdade que só de depoimentos eram mais de três horas, duração que nem todo o bruto de agora tem, mas ali eu confundi perfeccionismo com preciosismo.

Agora, nada de discussão por quadros para lá ou para cá. Nunca mais vou filmar não é um filme de ação. Como já disse, é de terror. Parte mais complicada dele, de longe e bem diferente de Do Goleiro ao Ponta-esquerda, foi a gravação. Na montagem, não só espero como visualizo menos tempo perdido para um resultado melhor. Acho possível.

Ps1: Os atentos já perceberam mudanças de créditos, mas explico. Gisela Stangl, a Guiu, apenas passou a ter seu nome na parte que ela desempenhou desde o início. No que diz respeito ao roteiro, desde convite a Bruna e Lucas disse que ideia dos encontros era para finalizá-lo a seis mãos - o que ajudou e muito na gravação corrida, aliás. Em suma, créditos retroativos.

Ps2: Acima, momento pós-filmagens. (Não, não sei se eles estavam tão felizes, mas preciso colocar uma foto bacana para o título do filme não ser profético. Agradeço a compreensão.)

sábado, 8 de janeiro de 2011

A mensagem do Messias

Foto: David Campbell

A cena é comum. Em festivais de cinema e derivados, você vê um entusiasmado diretor a falar de seu filme como se falasse de um filho, muitas vezes como se ele fosse o único do planeta, o Messias.
Faz parte. Nos debates pós-exibição, eles (os diretores e seus pretensos Messias) são bem-vindos, pois - se temos equipe ou parte da equipe do filme - vemos aí umas das raras oportunidades em que uma discussão reúne não apenas comentaristas, mas também comentado(s).

O problema é quando, e aí entram também pré-estreias à parte, a explanação é anterior ao filme.

Mais de uma vez, já senti uma mistura de constrangimento e irritação ao ver um autor "apresentar" sua obra. Essa combinação ideal (ou seja, demoníaca) costuma vir, geralmente, quando o realizador declama uma apaixonada crítica a respeito de si mesmo, ornamentada de metáforas ou de explicações sobre o que quis dizer e fazer.

A intenção do diretor (para não dizer que é irrelevante) importa menos que o filme. Detalhá-la antes da plateia assistir ao filme soa como algo ainda mais invasivo.

No texto que publicaria ontem, falava sobre locação em tom ameno, mas fiquei com a impressão de que já poderia induzir quem lesse a querer assistir ao filme do jeito que planejei. Passada a filmagem, o que eu quero dizer devo dizer é a Igor, na ilha de edição. Quero o blog não para advogar em favor do filme, mas para tentar manter o interesse dos outros em assisti-lo, sem que, para isso, eu tenha de interpretá-lo para todo mundo.

De antemão, todavia, já adianto: ele não será o Messias. Amém.

Ps: Filme com a cabine mais cheia que já fui (éramos umas 20 pessoas), Além da Vida, de Clint Eastwood, trata de espíritos com interesse maior na vida terrena e nos seres humanos, não na catequeze. Mesmo momentos potencialmente bregas, e o final é o mais triste deles, são geralmente contornados com sobriedade e elegância. Como parêntese, a sequência do Tsunami é uma aula de direção de cena-catástrofe. Estreou ontem. Vão!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

"Tá na mente"

Foto: Diego Teschi

Poderia dizer, poderia começar o texto aliás, com um susto. “O filme está montado” foi o início que pensei, mas desisti porque teria aí uma parcela de mentira e outra de sacanagem. Primeiro porque o filme sequer foi para a Ilha, e segundo porque o montador não sou eu.

O que fiz foi dividir decupagem em três etapas, que talvez fossem transformadas em apenas uma se o diretor fosse outro. Na última, que terminei agora há pouco e que fiz sem recorrer à anterior para parecer não influenciado, terminei com anotações detalhadas, no fim das contas já com pensamentos em cortes e sequências.

Algumas delas, quanto mais revejo, mais fico em dúvida, às vezes porque ainda não encontrei o ritmo ou a junção ideal, às vezes porque duas ou mais opções parecem funcionar igualmente mal ou igualmente bem. Já outras me parecem intocáveis, com tomadas medonhas contrastadas com outras perfeitas, inclusive com pontos de corte que parecem sinais divinos.

No entanto, mesmo nestes casos, parte da ideia de estar com o filme montado e visualizado "na cabeça" pode, para não dizer que deve, cair na hora que material chegar nas mãos de Igor. Para o que o filme pede, um bom montador precisa ter noção de roteiro e direção, assim como sensibilidade para ator e atriz. Como deve(ria) ser o diretor. A diferença de Igor é que, como entendeu o porqu
ê de não querer vê-lo nas filmagens, não foi contaminado pelo processo.

Referências o rapaz tem, as do filme ele já sabe. Agora, só precisa salvar o resultado. Até breve, jovem.